Pedro Cassel fala sobre novo momento na carreira e seu novo álbum

Pedro Cassel convida a uma nova jornada em seu próximo álbum, ‘Boca Braba’. O músico amadurece a sonoridade construída no trabalho de estreia, ‘Abrir’ (2020), e busca outras perspectivas poéticas, musicais e estéticas. O primeiro passo é ‘Galope’, uma canção musicada a partir de um poema de Tazio Zambi que traduz os questionamentos e incertezas de um tempo de tensões, ausências e escassez. O lançamento é do coletivo de criação musical OCorreLab, já disponível nas principais plataformas.

O novo disco irá marcar uma nova fase artística para Pedro Cassel. O catarinense radicado em Porto Alegre é músico, compositor e poeta, tendo lançado recentemente seu livro de estreia, ‘Kiwi’. A vivência sonora é ainda mais antiga: o habita desde os 11 anos de idade e foi nutrida até 2020, quando o artista lançou seu primeiro álbum. As canções reunidas ali foram compostas entre 2014 e 2018, gravadas em 2019 e entregues ao público no ano seguinte.

Pedro se jogou em novas composições e, tão logo ‘Abrir’ foi lançado, o músico já tinha um novo disco composto e abarcando todas as transformações pessoais e coletivas do país naquele momento. Para traduzir o zeitgeist em ‘Boca Braba’, Cassel recorreu a poetas contemporâneos para musicar seus versos – além de Tazio Zambi, aparecem no novo disco Bruna Beber, Ana Guadalupe e Rafael Mantovani. Os convidados musicais são Letrux, na já lançada ‘Merthiolate’, e Juliano Guerra, que estará no próximo single, ‘Olho da Rua’.

O resultado da gravação, toda feita à distância com o próprio artista assinando a co-produção ao lado de Eduardo Lara, poderá ser conferido a partir do dia 21/09, quando ‘Boca Braba’ será lançado pela OCorreLab. Enquanto isso é possível conferir ‘Galope’ e os demais singles em todas as principais plataformas. Confira a entrevista!

Dois anos após o lançamento de seu primeiro álbum, recentemente você anunciou ‘Boca Braba’, um álbum que tem representado um amadurecimento sonoro em seu trabalho. Ao que acredita que se resumiram essas mudanças entre um projeto e outro?

As canções desse álbum têm assuntos e jeitos de falar muito diferentes dos que se encontra no disco anterior (‘abrir’, 2020). Isso por si só já justificaria uma super mudança na forma de construir o som. mas o toque final dessa diferença é que agora eu assumi a produção musical, junto com meu parceiro de trabalho Eduardo Lara. Ouvimos muita coisa e experimentamos bastante até cada faixa ficar pronta, e acho que dessa vez consegui botar muito mais das minhas referências e interesses no disco.

Inspirada em um poema de Tazio Zambi, ‘Galope’ trouxe para o público um relato de persistência e reflexões sobre um momento de incertezas e tensões. O que mais o atraiu e como foi o processo de estudo sobre o Tazio para conseguir capturar a essência de um jeito próprio através de sua música?

Eu fiquei vidrado nesse poema desde que o li pela primeira vez. Aí comecei a preparar um show com canções ainda em fase de teste e achei que uma versão cantada daqueles versos ia ter tudo a ver com as outras que já tinha prontas. Fiz rápido, meio intuitivamente, e gostei do resultado – pra minha alegria, o Tazio também. Quanto a isso da essência: acredito que é mais o compositor que coloca a sua essência num poema ao musicá-lo do que o contrário. Um bom poema tem muitas essências, depende de quem lê. E ‘galope’ é um ótimo poema.

Na letra de ‘Galope’, acabamos conseguindo captar um verdadeiro jogo de palavras e frases que acabam ganhando eco ao questionar sem ter êxito em suas buscas. Esse enredo possui certa identificação com a realidade da sua vida?

Quando lancei ‘galope’, uma amiga mandou mensagem dizendo que gostou porque a música falava muito sobre a situação do músico independente. Nunca tinha pensado ela dessa maneira, mas vi que faz todo o sentido. é duro: dois anos de pandemia quebraram completamente o meio artístico e o governo atual faz de tudo pra barrar qualquer medida de incentivo ou proteção à classe. é engraçado que no meio disso tudo eu cante assim: ‘se a conta não fecha quem que me empresta um trocado?’. Especialmente porque foi um financiamento coletivo que garantiu a existência desse disco.

A respeito do processo de composição desse novo álbum, um dos pontos interessantes foi a sua participação no projeto OCorreLab, que é um grupo de criação musical coletiva. Como foi a experiência de criar nesse formato?

Compor, cantar e produzir são habilidades que geram um álbum, mas qualquer trabalho musical precisa de outras etapas também: produção executiva, logística de lançamentos, estratégia de divulgação. Ter um núcleo de pessoas pensando junto isso tudo e trazendo as suas próprias habilidades pra jogo faz um absurdo de diferença nesse sentido. É ver o seu trampo abraçado, protegido e expandido também.

A poesia contemporânea é um aspecto bastante presente nesse novo projeto. Além de Tazio Zambi nomes como Bruna Beber, Ana Guadalupe e Rafael Mantovani estão presentes no álbum. De onde surgiu a inspiração de convidar poetas para musicar suas canções?

Eu queria que o Boca Braba soasse contemporâneo, falasse dos humores e assuntos da nossa época sem no entanto ser datado ou específico demais. Por isso escolhi poetas que considero atuais, preocupados com temas e formas de falar do nosso tempo. Alguns deles, como a Bruna e o Tazio, já tinham experiência com canção, tendo sido cantados por gente como Letrux e Ava rocha. Outros, como a Ana Guadalupe e o Rafael Mantovani, ainda não tinham aparecido no mundo da música. Considero um privilégio imenso espalhar a palavra dessa gente toda, de quem sou fã.

Nascido em Santa Catarina e radicado em Porto Alegre, a sua vivência sonora já vem se estendendo desde os 11 anos. Lembra-se de como foram os seus primeiros contatos com a música e a partir de que ponto passou a vê-la como algo profissional?

A música veio através do meu pai, que tocava violão em casa e ouvia vinis do Gilberto Gil até furar. Lembro-me de um em especial: ‘o eterno deus mu dança’, lançado no ano em que eu nasci. Logo comecei a tocar violão e inventar as minhas próprias canções. Ninguém sugeriu ninguém ensinou: eu só achei que seria uma boa e fui fazendo.

Até assumir essa prática como profissão eu custei muito, especialmente por saber da dureza que é a vida do músico. Eu me vejo como profissional e tento agir dessa maneira, mas nem sempre isso basta pra gente ser bem tratado nos espaços e eventos onde toca. Se hoje seguro as pontas é porque além de escrever e cantar, eu também ensino essas duas coisas. E, no entanto eu já não sei – e nem quero – fazer outra coisa da vida.

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*Com Regina Soares e Letícia Cleto

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