Vinícius Duran promove combinação de samba e MPB em ‘Palavras Marginais’

Como quem atesta a importância de uma entrada triunfal no cenário da música brasileira, Vinícius Duran começa seu primeiro disco, ‘Palavras Marginais’, cantando no prólogo: ‘cheguei /  eu estou aqui’. O cantor, compositor e multi instrumentista faz de seu primeiro trabalho solo uma importante declaração poética e de resistência da música de raiz, das tradições culturais brasileiras e das lutas diárias em busca de dignidade em um país em frangalhos. Eclipsando a sintonia com o Brasil musical e político de 2022 com um pé fincado nas escolas musicais que o inspiraram, Duran entrega um álbum que dialoga com a atual produção do samba alternativo paulistano, ao mesmo tempo que avança lírica e musicalmente a estética da sua geração.

O lançamento vem na esteira dos bem-recebidos singles ‘Bandeira Vermelha’, ‘Moída’ e ‘Pau-Brasil’. ‘Palavras Marginais’ é uma obra plural, que representa a versatilidade de um artista que flerta com diversos ritmos e referências, mas que tem o samba como gênero matriz. Com produção de Renato Enoki e participações de Adriana Moreira, Tata Alves e Henrique Araújo, ‘Palavras Marginais’ mistura o frescor das composições de Vinícius com a experiência de grandes artistas que o apoiaram na produção deste trabalho, como Júlio César e Allan Abbadia. Confira a entrevista!

Qual foi o ponto de partida que te influenciou a falar sobre a tradição cultural brasileira e a busca por dignidade no seu primeiro disco?

O que eu quis fazer nesse álbum foi denunciar as opressões e violências sofridas pelo nosso povo trabalhador, fazendo um registro desse período obscuro pelo qual estamos passando, mas sem deixar de apontar para o futuro com esperança e determinação. Eu falo sobre as nossas raízes e tradições culturais porque infelizmente elas estão sob constante ameaça. Eu falo sobre episódios de dor porque a memória é uma ferramenta de luta e a destruição dela é uma forma de dominação. Essa é a minha forma de declarar carinho e gratidão pelo Brasil profundo e pelas suas contribuições para a nossa formação enquanto nação.

Como foi conseguir mesclar a música de raiz com a estética musical presente na sua geração?

Eu tenho grande admiração por artistas que conseguem ousar em suas criações em busca de algo novo, mas que mantêm um forte vínculo com as escolas que os influenciaram. Para mim essa é uma forma de respeitar aqueles que vieram antes e pavimentaram o nosso caminho. Se consegui expressar isso no meu disco, pra mim já é uma conquista. Além disso, eu tive a sorte de encontrar o produtor musical certo, o Renato Enoki, que além de ser um grande amigo, fez contribuições fundamentais para o álbum ser o que ele é.

Na live com Adriana Moreira você apresentou ‘Bandeira Vermelha’ e o que era um single de um novo repertório que estava produzindo acabou sendo o start para repaginar completamente o que vinha criando. Porque decidiu tomar essa decisão e dar outra vertente para seu trabalho?

Muita gente que acompanha o meu trabalho na Fiat Lux, que é o meu principal projeto musical desde 2018, se surpreendeu quando ouviu o meu disco solo. Tinha gente que esperava um trabalho de samba mais tradicional, mas na verdade a ideia de criar um novo projeto foi justamente dar vazão às canções que não tinham espaço dentro da proposta e da instrumentação da Fiat Lux. Depois do episódio com a Adriana Moreira em sua live me incentivando a entrar em estúdio para gravar ‘Bandeira Vermelha’, eu resolvi desenvolver um trabalho solo que dialogasse com o que eu vinha produzindo com o meu grupo, mas que tivesse uma identidade própria, expandindo um pouco esse universo da roda de samba e trazendo essa faceta mais moderna do meu repertório como compositor.

Como toda bagagem musical e diferentes estilos ouvidos e aprendidos por você ao longo de sua vida impactam a musicalidade do seu disco?

Eu acredito que tudo o que eu toquei e ouvi ao longo da minha vida, em menor ou maior intensidade, está presente nesse disco, do rock n’ roll à bossa nova. Até porque a diversidade foi um dos maiores critérios de seleção do repertório, justamente para que a obra fosse a mais dinâmica possível, mas não dá para negar que o samba é o alicerce desse projeto. Na verdade, ainda que tenha outros gêneros e referências no balaio, ‘Palavras Marginais’ é um disco de samba.

A criação do grupo de samba Fiat Lux dá visibilidade a músicas e compositores que não tiveram reconhecimento da indústria. A declaração de forma poética a música raiz no seu projeto musical é resgatar e homenagear um estilo musical que pouco foi visto pela indústria fonográfica?

Eu acho que a indústria fonográfica e cultural e as mídias tradicionais não têm interesse na divulgação da produção fonográfica brasileira de forma ampla e democrática. Mas isso está mais relacionado com o nosso modelo econômico do que com um ou outro gênero musical. O samba teve seus momentos de altos e baixos no mercado, mas essa estrutura sempre se mostrou insuficiente, pois nunca foi capaz de dar o devido espaço ao grande volume de criação e produção musical do país. Muita coisa bonita foi feita e lançada à margem dessa grande máquina e eu tenho muito interesse em toda essa produção. Defender esse tipo de repertório é uma bandeira da Fiat Lux e isso com certeza se reflete no meu trabalho solo também.

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*Com Regina Soares e Letícia Cleto

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