Convite aos questionamentos, Erico Moreira fala de ‘Dentro da Matrix’, álbum indicado ao Grammy

Mesmo fora do mainstream, são poucos os artistas que se envolvem com cada minúcia da produção de suas músicas com exímio conhecimento, unindo com maestria a função de produtor junto ao fazer artístico primordial. Erico Moreira é uma dessas figuras ímpares dentro da música brasileira, sendo reconhecido por seu trabalho com uma indicação ao Grammy Latino 2022.

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Passeando por canções confessionais e outras pequenas crônicas críticas sobre o modo de vida contemporâneo, Erico tenta colher os frutos de seu último trabalho, ‘Dentro da Matrix’, sabendo que cada faixa do álbum provocador vai contra uma maré de canções criadas milimetricamente para estourar nas redes sociais.

O cantor, produtor e compositor comenta sobre a indicação ao Grammy, os rumos da música no mercado e mais na entrevista abaixo:

Seu disco soa pop e alternativo ao mesmo tempo. A experiência como produtor te fez pensar nessa balança musical ou foi um resultado natural de suas influências musicais?

Acho que a sonoridade do disco foi construída de maneira intuitiva, como tudo o que faço. Eu procuro sempre deixar a parte mais racional de lado quando estou produzindo ou compondo, apesar de haver muita reflexão e as vezes dúvida na hora de decidir que caminho tomar. Mas acho que essa balança se deve à minha escola musical, que é muito diversa.
Minhas influências musicais vão desde Tom Jobim à D’Angelo.

Antes se falava muito em potencial radiofônico. Agora é sobre como uma música tem capacidade para viralizar. Como equilibrar a necessidade de atingir novos públicos e manter a identidade da criação?

Penso que primeiro de tudo, um artista tem que trazer verdade no seu trabalho. Quando se faz música pensando no público ou no que é tendência no momento, o artista acaba por se afastar da sua verdade. Eu procuro sempre fugir da tentação de agradar.

Acredito que a arte e a música tem um papel muito mais profundo do que simplesmente agradar ou entreter. A música é uma expressão espiritual. Como diria Platão ‘A música dá alma ao universo, asas à mente, voo a imaginação, e vida à tudo!’

‘Dentro da Matrix’, seu mais recente álbum, toca em questões contemporâneas sensíveis como o isolamento, a pandemia e a solidão. Acredita que há mais a explorar desses temas ou o próximo disco tende a vir com novas narrativas?

Acredito que sim, há muito mais por explorar nesses temas. Ao meu ver, vivemos em um momento crucial da história da humanidade. É um momento onde temos que decidir que caminho tomar. Por um lado se apresenta a possibilidade de viver numa realidade distópica, onde o medo é quem nos guia e do outro, a possibilidade de despertar para o nosso verdadeiro potencial, onde a consciência e o amor são a tônica. Mas obviamente, tenho canções ainda inéditas que falam sobre novos temas.

Você é responsável por todo processo criativo da sua música desde cedo e isso difere de uma lógica que o mercado atual segue. Acha que pode ser obstáculo para alcançar novos espaços?

Pode ser. Mas por enquanto não me preocupo muito com isso. Prefiro escrever a minha história sem pensar muito em mercado e sem me enquadrar dentro de nenhuma caixa.

Alguns amigos me chamam de renascentista, por fazer muitas coisas. Na verdade nunca gostei de me limitar a fazer só uma coisa. Acho essa história de especialização muito limitante.

Na faixa que dá título ao álbum você denuncia a existência de prisões simbólicas que escravizam as pessoas. Essas limitações impedem as pessoas de explorarem novas sonoridades na hora de escolher como ouvir música?

Com certeza. Apesar de vivermos na era da internet, onde a principio todo mundo tem liberdade de escolha, as mídias tradicionais ainda tem um peso muito grande na hora das pessoas consumirem música. Também acredito que a música pode ser uma ferramenta de controle e empobrecimento intelectual das massas. Isso explicaria porque musicas que elevam a nossa vibração, e que nos fazem pensar, tem cada vez menos espaço. Um povo ignorante é bem mais fácil controlar.

Você trabalhou no álbum da cantora catalã Marina Tuset também. Ser produtor de discos de outros artistas é algo que ambiciona fazer mais vezes?

Geralmente gosto de produzir artistas que tenho uma relação mais próxima. Mas ao mesmo tempo estou aberto a trabalhar com artistas que não sejam do meu círculo.

Músicas como ‘Imagina’ e ‘Fukushima’ e a própria ‘Dentro da Matrix’ trazem as diversas camadas de sons que justificaram sua indicação ao Grammy. Vai explorar mais dessa sonoridade nos próximos trabalhos ou agora é partir para novos caminhos?

Já estou começando a pensar no próximo disco e de fato já comecei a produzir duas canções inéditas. Acho que o próximo disco será mais experimental no que diz respeito à estética sonora. Vamos ver, pra mim a criação é sempre um mistério, e só quando estou imerso nela é que vou descobrindo possibilidades e possíveis caminhos.

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