Dani Bessa fala sobre lançamento de seu primeiro álbum: ‘componho quando estou passando por alguma situação de estresse’

Autoconhecimento é uma palavra muito usada, mas o que exatamente ela significa? O termo reflete a necessidade que temos de entender a nós mesmos para conseguirmos nos projetar no mundo. Mas não é um exercício fácil, já que estamos sempre em constante mudança na vida. O músico carioca entendeu a necessidade desse processo e resolveu documenta-lo no que veio a se transformar em seu EP de estreia Despedidas.

Despedidas conta com outros singles que foram compostos ao longo dos últimos cinco anos e que refletem momentos específicos da vida de Dani ao contar histórias diferentes. ‘Se Você Tivesse Dito Sim’ (composta em 2019) ilustra uma realidade alternativa em que a pessoa amada opta por ficar em sua vida. ‘Passional’ (composta em 2017) fala sobre aceitação e individualidade. ‘Linha Tênue’ (composta em 2020) simula, sob uma estética futurista, uma dançante viagem no tempo com diálogos românticos. Já a animada ‘Vou Te Contar’ (composta em 2021) é sobre falar o que precisa ser dito, externalizar. ‘Despedidas’, enquanto isso, chega para fechar esse ciclo, entrelaçando todas as canções anteriores e dando a tônica do álbum: o desprendimento de fases da vida, mesmo tendo em mente a importância que elas têm para a pessoa. Todas as faixas contam com sua escrita característica, ao mesmo tempo literal e poética ao contar com detalhes sua trajetória, despertando o imaginário do ouvinte e gerando identificação direta.

Além disso, Dani conta com uma cativante sonoridade multifacetada. Ele a construiu através de uma gama ampla de referências, que engloba nomes nacionais dos mais diversos. Lô Borges, Tim Maia, Belchior, Marina Sena e Tim Bernardes são apenas alguns deles. Ao mesmo tempo, o cantor e compositor também possui influência em bandas internacionais como Oasis, Arctic Monkeys, The Strokes e Red Hot Chili Peppers. Confira a entrevista!

Muito valorizado, porém não tanto compreendido, o autoconhecimento já se provou ser algo essencial em nossas vida e é justamente o tema que trouxe em sua música. Qual foi a principal importância de abordá-lo através do EP ‘Despedidas’?

Nesse EP de estreia acho que consegui abordar várias versões de mim em cada faixa. Isso aconteceu de uma forma não proposital, na verdade. Tem composições mais antigas que outras, e a maneira que eu ouvia/pensava música vai sempre mudando quando novas referências vão entrando no meu radar. A maneira de compor, por tabela, muda também. Acho que no fundo o autoconhecimento serviu bastante pra encontrar com a minha personalidade de artista, que vem sendo construída ao longo dos últimos anos. Experiências, erros e acertos foram acontecendo e o saldo disso tudo acabou me moldando e para ser o artista que sou hoje.

A respeito desse autoconhecimento, apesar de ser um descobrimento bastante importante, ele não costuma ser um exercício fácil para convivermos bem com nós mesmos. Acredita que a sua música poderá ajudar o público através da autorreflexão?

Acredito que esse autoconhecimento se reflita um pouco mais nas minhas experiências como indivíduo e como um artista. Mas, por tabela, acho que quando a galera ouve meu som, acaba que tem uma identificação direta com a letra por conta do meu jeito mais literal de compor as músicas. Nesse sentido, o EP tem canções mais reflexivas, como ‘Passional’, que acho que se enquadra bem nesse tema da autorreflexão. A construção das outras faixas, que falam mais sobre períodos de um relacionamento, também trazem consigo um tipo de amadurecimento que vem durante uma transição da fase jovem pra fase jovem adulta.

‘Despedidas’, além de ter sido seu EP de estreia, ele também serviu como um registro de sua evolução. Como vieram as primeiras ideias para que sua confecção fosse possível?

Então, é engraçado isso, mas quando eu lancei a primeira música desse EP (‘Se Você Tivesse Dito Sim’), tinha apenas mais uma escrita, que era Passional. Foram composições que escrevi antes da pandemia. Sempre pensei na possibilidade de lançar um EP como primeiro trabalho mais sólido, mas ainda não tinha composições finalizadas pra encaixar nesse possível projeto. No ano seguinte (2021), tive que retornar para Campinas para terminar meu Mestrado em Química, e aí não consegui ter tempo hábil pra compor muito. Somado a isso, ainda passei por um bloqueio criativo dos grandes. As músicas foram surgindo, mas de forma mais lenta que eu gostaria. Depois de superado o bloqueio e de ter finalizado os trabalhos da minha pesquisa, consegui voltar pro Rio de vez e aí a coisa foi ficando mais fluida, retomei o ritmo de escrever com mais frequência. Foi quando lancei ‘Linha Tênue’. Mais tarde, ainda no ano de 2021, comecei a compor ‘Vou Te Contar’, mas ela ainda precisava de ajustes. ‘Despedidas’ veio só em 2022, um pouco antes de terminar as gravações de ‘Vou Te Contar’. Depois disso tudo, e com mais composições na manga, decidi lançar esse EP pra marcar o final do ciclo de singles lançados anteriormente. As 5 faixas faziam sentido juntas e decidi por fazer assim.

Composto por cinco faixas, o EP conseguiu encaixar os ritmos de rock indie com o MPB. Como definiria seu estilo musical atualmente e como foi estabelecer essa conexão intergêneros?

Gosto de dizer que faço um som rock indie/alternativo que te deixa na bad mas dá vontade de sair dançando ao mesmo tempo. Ao mesmo tempo, tento introduzir alguns elementos mais da MPB, como no caso de ‘Vou Te Contar’, que tem uns metais muito característicos do som que o Tim Maia fazia. Sou um grande fã do Síndico e mesclar meu estilo de fazer música com algum elemento que tem nas músicas dele sempre foi um plano. Acho que quanto mais música brasileira você ouve, mais sua criatividade fica aguçada e aí dá pra flertar bastante com uma sonoridade mais voltada pra MPB.

Nos últimos meses você foi apresentando aos poucos as quatro primeiras faixas do EP, e agora fez o lançamento da faixa-título. Como tem sido a recepção do público e as pressões pré-lançamento desse seu primeiro EP?

As músicas tem apresentado uma receptividade muito legal! Já chegou gente que não conhecia me agradecendo por uma música que lancei, dizendo que foi muito importante pra ela num momento específico da vida. Essas coisas me marcam muito. A primeira faixa do EP acabou entrando na Indie Brasil, playlist editorial do Spotify, e isso trouxe uma galera que eu não conhecia. Vejo que a galera curte meu trabalho, e isso é massa porque consigo perceber que o som está chegando em cada vez mais pessoas que não conheço, espero que continue assim!

Compostas nos últimos cinco anos, cada letra sua nos apresentou um momento específico da sua vida que misturam vários aspectos dela. Nesse caso, acredita que a música tenha servido como forma de desabafo para as situações que passou? Qual foi o momento mais marcante?

Com certeza. Na grande maioria das vezes, componho quando estou passando por alguma situação de estresse, insegurança, dúvida ou algo assim. Encontrei na música uma maneira de tirar da cabeça o que me aflige e colocar no papel e em harmonias/melodias de guitarra. Isso é bom pra deixar a cabeça mais leve de certa forma. O momento mais marcante com certeza foi quando escrevi ‘Se Você Tivesse Dito Sim’. Foi na semana que tinha me mudado pra Campinas para iniciar meu Mestrado e o pessoal da universidade ainda estava de férias, então me senti muito sozinho. Peguei a guitarra, liguei, e saiu quase que de uma vez só. Aí que nasceu a primeira faixa do EP. Ultimamente, porém, tenho conseguido compor em momentos de mais descontração também, e fico feliz com isso! Dá para explorar diversos temas. Tem coisa nova por vir!

Como poderia ser descrito o verdadeiro significado da música na sua vida?

Essa pergunta é meio reflexiva, ma vamos lá! Em primeiro lugar, sempre gostei muito de assistir performances ao vivo no YouTube, ficava meio vidrado em shows do Arctic Monkeys, por exemplo. Mostrava pros meus amigos, meus pais, etc. E ficar vendo os caras tocarem me inspirava muito. Pulando bastante coisa de lá pra cá, hoje a música é minha prioridade número 1, quero seguir a carreira de artista e estou mergulhando de cabeça nisso. Por enquanto, porém, ainda não consigo ter uma renda que me permita fazer isso com um conforto financeiro razoável, então ainda preciso trabalhar por fora para poder bancar os custos de produção, gravação, fotos, clipes, essas coisas. Não é fácil, mas não sou de desistir. Tenho isso muito bem esclarecido na minha cabeça: a música veio pra ficar e seguir a carreira de artista é meu plano A, não o plano B.

Com um talento que vem da família, um dos produtores do seu EP foi justamente o seu primo Leandro Bessa. Como foi essa colaboração entre vocês?

Essa amizade que tenho com o Leandro vem desde que a gente nasceu praticamente. Mas a proximidade musical se deu no ensino médio quando fizemos parte da mesma banda. Desde aquele período, a gente já trocava muita figurinha sobre música. Mas falando mais de agora, é muito legal poder contar com um produtor que é tão próximo a mim, porque aí vejo a transparência na hora dos elogios e também das críticas, o que meio que me incentiva a estar sempre em constante melhora. A gente grava tudo no homestudio dele, e essa pra mim é a melhor parte: ver a coisa acontecendo. Nos entendemos bem e vamos evoluindo individualmente, o que é legal de ver/ouvir também.

Agora nessa última sexta-feira, você irá realizar o primeiro show da sua carreira. Como estão suas expectativas para essa nova experiência?

Energias vazando pelos poros por aqui. Faz muito tempo que não subo num palco pra cantar/tocar. Vai ser minha estreia como artista solo e estou muito empolgado mesmo, será um dia inesquecível pra mim. Escolhi o mesmo dia do lançamento do EP para poder tocar todas as músicas no mesmo dia. Acho que dá pra dizer que vai ser um lançamento duplo.

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